Duas semanas. Um dia. Alguns segundos.

    Duas semanas. Era todo o tempo que tinha. Era todo o tempo que precisava.
Seu jeito de falar, sua voz tranquila, seus olhos brilhantes. Lá estava ele no calçadão, de bermuda clara, camiseta regata azul, com uma das pernas apoiadas no banco de cimento, rindo sem constrangimento, enquanto seus dois amigos contavam alguma história engraçada. Atrás deles, a areia branquinha enfeitada pelo mar de águas verdes e ondas agitadas, completava o cenário.
De longe, eu podia ver sua boca de lábios rosados movendo-se com naturalidade. Sua imagem se intensificava aos meus olhos à medida que me aproximava. Ele estava olhando para mim? Como poderia saber se, ao passar por ele, fingia que não o percebia.
Tetê, minha amiga, jurava que sim. Se bem que os olhos dela acertavam em cheio o primo, ao lado dele, Paulão. Como ela poderia ter certeza?
Toninho era de Brasília. Estava na casa de Paulão, de férias. Fiquei sabendo por Tetê, que estudava com o outro amigo, Pedrinho. Os três estavam sempre juntos.
Todos os dias eles iam para o calçadão da praia. Ficavam exibindo seus olhares e seus corpos bronzeados para todas as garotas que desfilavam em frente a eles.
Mas Toninho era especial. Seu charme era sua marca registrada, principalmente quando seus cabelos lisos esvoaçavam com o vento que vinha do mar.
Eu achava que ele era muita coisa para mim. Mas era tudo que eu queria naqueles dias de verão.
Sonhava com ele, imaginava o primeiro beijo e uns amassos depois que saíssemos da sorveteria.
Eu não tinha coragem. Não conseguia olhar para ele que não fosse de longe.
– Pedrinho me disse que em duas semanas ele vai voltar pra Brasília – declarou Tetê. – Pro Rio, ele só vem nas férias do ano que vem. Quer que eu diga pra ele alertar o Toninho sobre você?
– Não, deixa assim mesmo como está.
Foi minha resposta, depois que presenciei Toninho conversando alegremente com uma garota que esbanjava sorrisos para ele. Nesse dia, eu e Tetê passamos pelos três, como era de costume todas as tardes, desde que começaram nossas férias. Pedrinho acenou para Tetê, quando nos viu e cutucou Paulão discretamente.
– Boa tarde! – Cumprimentou o primo carioca, olhando com seu ar insinuante para Tetê.
– Boa tarde! – Ela respondeu com seu charme ousado.
Nós passamos, Paulão ficou olhando para Tetê, até que ela se virou para ele, sem apressar seu passo.
Toninho continuava distraído com sua nova paquera e nem notou que o primo o havia deixado para ir ao encontro de Tetê.
– Ele está vindo – anunciou Tetê, vitoriosa.
– E Toninho? – Perguntei esperançosa.
– Ficou com o Pedrinho – ela hesitou em acrescentar a presença da garota.
Paulão, com passos largos, nos alcançou em uma fração de segundos.
– Posso acompanhar vocês? – Perguntou ele com seu jeito sedutor.
– Claro – respondeu Tetê, agora sem hesitar.
Eu respirei fundo, disfarcei e voltei os olhos rapidamente para a figura esbelta e morena do homem dos meus sonhos. Toninho movia seu corpo com perfeição à medida que soltava seus braços em uma coreografia sensual e provocante.
Agora, faltava menos de uma semana. Eu contava os dias antes de dormir.
Tinha que tomar coragem. Toninho ia embora para Brasília e eu não sabia quando iria vê-lo de novo.
Tetê passou a encontrar Paulão todas as tardes. Toninho sempre se abrindo em sorrisos para a mesma garota. Um dia. Era todo o tempo que tinha. Era todo o tempo que precisava.
Agora era tudo ou nada. Afinal, ele ia embora mesmo e, provavelmente, em menos de alguns dias, ele nem se lembraria mais de mim.
Tetê acionou Paulão:
– Tudo que você tem que fazer é levar Toninho pra um lugar onde ele fique sozinho por alguns minutos.
Tudo certo. Paulão chamou Toninho com discrição. Pedrinho ficou conversando com a tal garota.
– Tem uma pessoa que quer falar com você – anunciou quando chegaram em frente à barraca do cachorro-quente.
– Quem? – Perguntou ele intrigado.
– Eu – respondi posicionada atrás dele.
Toninho virou-se ao ouvir minha voz.
– Oi – disse ele surpreso.
Paulão saiu de cena com um cachorro-quente na mão, sem pedir licença.
– Podemos conversar? – Perguntei fingindo descontração.
– Claro! Vamos sentar ali no banco.
Caminhei ao lado dele sem sentir meus pés. Libertei as palavras apressadas, assim que nos sentamos.
– Duas semanas. Era todo o tempo que tinha. Era todo o tempo que precisava, desde que você chegou no Rio para passar suas férias. Agora, só tenho um dia.
Toninho, em silêncio, esperava o desenrolar daquele mistério.
– Eu gosto de você desde que vi você a primeira vez na casa do Paulão – comecei sem hesitar. – Esses segundos são todo o tempo que tenho pra dizer isso pra você, aqui e agora. Não importa o que você pense, esse é todo o tempo que eu preciso pra lhe dizer.
Toninho olhou em meus olhos surpreso.
– E eu que sempre achei que você era muita coisa pra mim, que jamais iria prestar atenção em um cara magrelo com sotaque do interior.   Passava por mim e não me via. Eu olhava pra você e você não me via.
– Mas você só olhava e conversava com aquela outra garota o tempo todo – justifiquei.
– Aquela garota é paquera do Pedrinho. Ela se aproximou de mim pra chegar até ele.
Fiquei em silêncio. Um segundo era todo tempo que eu tinha. Todo tempo que precisava.
Fui aproximando meu rosto do dele em silêncio. Toninho puxou meu corpo pra junto dele em um só movimento. Nossas bocas colaram uma na outra, nossas línguas se embolaram, ele me abraçou como se não quisesse perder aquele momento; eu deixei que ele apertasse meu corpo enquanto minhas mãos se perdiam em seu pescoço por baixo dos seus cabelos sedosos.
– E eu que pensei, quando vi você pela primeira vez – confessou ele quando afastamos nossas bocas para podermos respirar:
“Duas semanas. É todo o tempo que tenho. É todo o tempo que preciso pra beijar a garota que tem o sorriso mais lindo da praia.”

 

 

 

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