Fernando em Pessoa

Ao sair da estação do metrô, minhas pupilas se contraíram diante do sol de verão. O céu de um azul forte me convidava a navegar na nau histórica de Lisboa. Encontrei-me, então livre para explorar o passado que se materializava no novo. Busquei ao meu redor por onde começar e quando alcancei o ângulo à minha direita, avistei Fernando, sentado em uma mesa da cafeteria, em pessoa.
Não acreditei, fui me aproximando lentamente, não queria incomodar, mas não pude deixar de cumprimentar.
– Poderia ter a honra de tomar um café com você?
Ele me ofereceu a cadeira em frente. Um garçom atento logo pousou uma xícara bem alva pintada por dentro com o líquido escuro, que exalava o perfume de um encontro à tarde.
Brindamos com nossas xícaras. Eu não achava palavras para dar sequência àquele breve diálogo.
– Atravessei o Pacífico pensando em você – declarei.
– Pensei que você já tivesse me esquecido – ele complementou.
– Não se esquece de um beijo roubado em uma despedida no avião.
– Faz mais de um ano – ele lembrou. – Você seguiu para a Itália. Eu voltei para minha terra.
– Na correria do aeroporto, não deu tempo de mais nada.
– Foi um beijo inesquecível – ele sussurrou.
Eu bebi o café lentamente, coloquei minha xícara na mesa, olhei bem nos olhos dele.
– Foi um prazer revê-lo, Fernando.
Levantei devagar, abri minha bolsa, peguei uma cédula para pagar.
Ele pousou a mão dele na minha em cima da mesa.
– O café é por minha conta – ele disse. – E o jantar também.
Naquela noite, sem pressa, conheci o melhor restaurante de Lisboa, saboreei a mais famosa refeição portuguesa, bebi o mais refinado vinho, e retomei o beijo que Fernando havia me roubado. Quando voltei de viagem, Fernando, em pessoa, não só me levou ao aeroporto, como devorou minha boca com a sua, mais uma vez.
A vida é feita de encontros e desencontros. Alguns encontros vêm e vão, outros vão e voltam. Outros …

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