Mooncup – a xícara da Lua

Uma xícara é só uma xícara. Foi o que eu pensei quando Marcondes anunciou que havia criado um objeto para esse planeta.
– Uma xícara? – Perguntei com altas risadas.
– Não é uma xícara – declarou ele indignado com a minha reação, – é a MOONCUP! – Completou exibindo o objeto à minha frente.
– Isso é uma xícara – continuei rindo, – que tem sido usado há milhares de anos, muito antes de você nascer.
– Xícara é só uma xícara, que só serve para ocupar o armário.
– Eu uso pra tudo: bebo leite nela, café, chá, água, e faço até de potinho de sobremesa, só não tomo sopa porque gosto de muita.
– Não compare a Mooncup com a sua xícara.
Marcondes fez questão de posicionar o objeto fantástico bem em frente aos meus olhos.
– Você não está vendo nada de diferente? – Insistiu ele.
Eu olhei minuciosamente.
– Pega com sua mão – ele me desafiou. – Está com medo?
– E eu vou ter medo de uma xícara? – Disse, achando graça da impossibilidade do objeto me assustar.
– Então pega!
Eu fiz cara de quem iria fazer aquilo só para ele parar de me perturbar. Alcancei a xícara com minha mão direita. Redonda, podia caber certinho na palma da minha mão, cor branca, por dentro havia umas manchinhas escuras parecidas com pó de pedras.
– Por que está quente? -Perguntei sentindo aquecer minha mão.
– Porque essa é a Mooncup. Ela é feita de pedaços de rochas da Lua.
– E onde você arranjou pedaços da Lua? – Continuei rindo.
– Um astronauta me deu. Amigo do meu pai. Ele conheceu um astronauta americano que deu a ele uma amostra de rocha da Lua.
– Ah, sei – continuei cinicamente, – um astronauta deu uma rocha da Lua para outro astronauta, que deu pra você.
– E eu derreti tudo e fiz a Mooncup.
Eu devolvi a xícara para ele.
– Ahã – sussurrei ao entregar.
– Você não está acreditando, né? – Insistiu Marcondes. – Quando a gente bebe algo de dentro da Mooncup, se transporta para outra dimensão.
-Marcondes, você está usando droga? – Perguntei surpresa.
Ele ficou rindo.
– Claro que não – declarou. – Vai lá na sua casa e traz um copo d’água da sua geladeira.
Eu pensei por uns ínfimos segundos.
-Tá bom – concordei, para tirar a teima se a criatura estava em sã consciência.
Fui até a minha casa e voltei com uma jarra de plástico.
– Você mesma coloca – decidiu ele.
Lavei a xícara com a mesma água e derramei o líquido dentro dela.
– Você bebe primeiro – disse com segurança.
Marcondes bebeu lentamente gole por gole até a última gota. Eu esperei para ver se ele tinha alguma reação.
Ele engoliu tranquilo e me ofereceu a xícara.
– Agora é você – disse ele.
Eu derramei um pouco da água dentro do objeto e bebi. O último gole eu saboreei olhando direto nos olhos dele.
Respirei fundo.
– E então? – Perguntou ele.
– A água estava saborosa.
– Mas água não tem sabor.
Eu fiquei em silêncio esperando o que vinha depois da última oração.
– É o gosto da Mooncup, não da água. Seu pensamento na frequência da Lua pode transformar o que você quiser. Mooncup tem a frequência da Lua porque é feita de material lunar.
– Quer dizer que eu posso sentir ou ter o que eu quiser bebendo algo dessa xícara?
– Exatamente.
Eu pensei em silêncio. Mooncup ainda estava na minha mão. Derramei mais um pouco d’água em seu interior com muito cuidado. Bebi gole por gole de olhos fechados.
Quando minha visão se tornou real, Marcondes, levitando em frente a mim, com seu amplo sorriso, estendia sua mão para que eu a alcançasse. Uma névoa rala nos envolvia suavemente.
Eu entreguei minha mão e deixei que ele me conduzisse, sem pressa, flutuando, alegre.
Eu, a Mooncup e a Lua sabíamos exatamente para onde ele iria me levar.

Inspirado na Lua, minha fiel companheira.

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