Estava eu andando pelas ruas de Roma, com tamanha intimidade, que tinha a impressão de já ter vivido lá experiências profundas em cada rua por onde passava. E tive. Só que nas páginas de um livro.
A história de amor entre Luciana e Nino começou na Itália, mas somente na minha imaginação. Apesar de nunca ter visitado o país, vivi com os personagens momentos apaixonantes e inesquecíveis.
Então, dois anos depois, decidi conhecer, em pessoa, os lugares marcantes que foram cenário de uma louca paixão. Mais do que isso, tinha certeza de que iria encontrar o italiano sedutor que levara Luciana à loucura.
Visitei a rua que havia escolhido, pela internet, para ser a casa de Nino, no bairro chamado Monti. Encontrei a casa de sobrado, com portas antigas, maçanetas douradas e janelas floridas.
Para chegar até Nino, era só uma questão de acreditar.
Alguns dias antes de voltar, entrei em uma cafeteria acompanhada de Marcela e Tiago, um casal de brasileiros com quem fiz amizade em uma das minhas visitas aos lugares encantados de Roma. Marcela, quando soube do motivo da minha viagem, garantia que eu e Nino nos encontraríamos.
Em frente ao balcão, um rapaz de camisa social branca, desabotoada até o início do peito, saboreava uma taça de cerveja. Animados pelo aroma do café que perfumava o lugar, escolhemos uma mesa ao lado da dele.
– Três cafés! – Pediu Tiago ao atendente, falando em inglês.
– O café é uma bebida mágica – interagiu o rapaz, falando fluentemente a língua inglesa.
– Eu tenho que beber um cafezinho todas as noites – acrescentou Tiago, aproveitando a interação.
– Pelo sotaque, vocês não são daqui – afirmou o italiano, em inglês, aproveitando que entendíamos e falávamos também.
– Somos do Brasil – Tiago nos apresentou. – Essa é minha namorada, e essa minha amiga.
– Prazer. Eu sou de Nápoles, mas estou morando em Roma.
O rapaz falou sobre seu trabalho, sua vida em Nápoles e sua namorada italiana. Enquanto eles conversavam alegremente, não pude deixar de observar com detalhes o rosto familiar do italiano.
– Qual o seu nome? – Perguntei com meu olhar curioso e admirador.
– Walter – ele respondeu com orgulho. – É a primeira vez em Roma?- Perguntou olhando para nós, um de cada vez.
– Sim – respondeu Tiago. – Eu e Marcela viemos comemorar aniversário de namoro.
– Vocês são amigos? – Deduziu ele.
– Não. Na verdade nos encontramos por acaso, na Fontana de Trevi, de lá, viemos jantar e resolvemos tomar um café. Eu vim a Roma conhecer os lugares que escrevi em meu livro sem nunca ter visitado seu país. Já visitei a Piazza Navona e estive em Monti – esclareci, – lugares que foram cenário de uma louca paixão na história.
– Isso é fabuloso – declarou ele, pedindo mais detalhes com seus olhos.
Enquanto eu falava, focada naquela imagem desenhada pelos meus olhos, detectava semelhanças perfeitas com Nino, personagem do romance, e com a foto da capa: o rosto de Nino e Luciana, com seus lábios posicionados em um beijo ousado e quente.
Walter exibia o mesmo rosto, o mesmo sorriso, a barba e o bigode bem aparados, em um design perfeito; sem dúvida alguma, era a mesma boca que enlouquecera Luciana, e a mim, nas cenas sem censura e desvairadas.
– Fantástica, a sua história – exclamou ele perplexo.
Eu abri a tela do celular para procurar uma foto do livro, perdida entre milhares de outras ao longo do tempo.
O Universo mandou o primeiro sinal. Assim que cliquei no ícone das fotos, a imagem da capa, perdida em meio às milhares de outras salvas, despontou por inteira aos meus olhos. Coincidência? Sorri com a surpresa e entendi. Olhei para Walter, mais uma vez.
– Você se parece muito com o Nino – declarei sutilmente, para não assustar o italiano, em saber que ele era o próprio.
Ampliei a foto que se exibia para mim e mostrei a ele a prova concreta e real.
Não tive dúvidas. Naquele momento, Nino acabava de se materializar para mim.
Walter enrubesceu, olhou para a foto, emitiu risos desconcertantes. Ficou sem palavras. O silêncio confessou.
A semelhança era nítida.
A situação piorou quando eu declarei que todos que liam o livro afirmavam que eu e Luciana éramos a mesma pessoa.
Então, a história teria mais um capítulo, ali, na cafeteria, onde eu e ele havíamos nos encontrado, sem nunca termos marcado esse encontro.
Eu tinha entendido, mas Walter, ainda tonto com o movimento do Planeta, fingiu equilíbrio emocional.
– A história se passa em Roma, e vocês estão em Roma – arriscou Marcela, que apenas observava até aquele momento.
– Na cafeteria – complementou Tiago.
– O encontro de Nino e Luciana na cafeteria – insistiu Marcela.
Por uns instantes, também fiquei sem palavras. Walter bebeu o que restava de sua cerveja de uma vez.
– Quero traduzir essa história para o italiano – libertei, enfim, um som consciente. – Você conhece quem possa fazer isso?
– Sim, quer dizer, não sei. Não sei se ela poderia. – Gaguejou ele.
Walter olhou para o relógio em seu braço esquerdo.
– Bem, tenho que ir – declarou ele, visivelmente desconcertado, – sempre paro aqui para tomar um copo de cerveja gelada antes de ir para casa.
Ele levantou-se com elegância, procurando equilíbrio. Eu o acompanhei com os olhos enquanto ele se despedia de Tiago e Marcela.
Walter, então, parou em frente a mim e atingiu o ângulo certo das minhas pupilas retraídas pela luz que nos iluminava.
– Escrever um romance é desafiador. Transformar personagens em pessoas reais, mais ainda – declarou ele.
Walter moveu seus lábios levemente, tentando disfarçar seu verdadeiro sorriso, aquele que eu já conhecia tão bem, para não delatar as cenas de paixão, sussurros, palavras desconexas e toques profundos movidos pela sensibilidade libidinosa dos corpos e a luminosa transparência das almas.
Pagou a conta, despediu-se de nós, mais uma vez, com um “CIAO” e dirigiu-se até a porta. Antes de abri-la, eu virei o rosto para ele, como em câmara lenta. Walter estava olhando para mim, com seu verdadeiro sorriso.
Eu sorri de volta, movimentei meus lábios sutilmente e deixei que ele os saboreasse mais uma vez.
Esse conto foi inspirado em fatos reais.
NOSSAAAAA….
É COMO VIVER E REVIVER, MEUS MAIS EMOCIONANTES SONHOS….KKKKKKK
PARABÉNS , VC DÁ VIDA E EMOÇÃO A CADA LEITURA COMPARTILHADA.
Feliz em despertar vida, emoções boas, e iluminar sonhos, Dryca!❤️
Gratidão!!!!